sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bolívia

Em janeiro de 2014 nos arriscamos em um passeio sem rumo pela Bolívia, cuja fronteira fica bem próxima de nossa cidade.
Fomos de carro até Cáceres (cidade da fronteira no Brasil), numa sexta a noite, após o trabalho, dormimos e deixamos o carro estacionado lá, na casa de um amigo do Rennan. De manhã cedo fomos à polícia Federal solicitar a saída do País, tudo certo pra embarcar, pegamos um busão até a Corixa, um lugar no meio do nada, com um portal e uma casinha, onde fica claro que você está deixando seu país. Ali no meio do nada ficam alguns taxis esperando os "turistas" e existe uma linha de ônibus de hora em hora que leva até a cidade mais próxima.

San Matías:
Chegamos em San Matías antes do almoço e nem nos preocupamos em ir direto a rodoviária, e esse foi nosso primeiro erro. Sentamos num boteco, tomamos uma cerveja e uma sopa boliviana, e após o almoço nos dirigimos até as garagens das cias de ônibus, que ficam no centro da cidade, pois a rodoviária é um pouco afastada. Nenhuma garagem tinha passagens para o mesmo dia, e o desespero começou a bater. San Matías é uma cidade muito feia e assustadora, e eu já tinha ouvido histórias demais a respeito do tráfico de drogas na região, e vimos muitos caras estranhos em caminhonetes zeradas, com placas do Brasil, escutando racionais no último volume, que passavam nos encarando, e isso disparou todos os meus preconceitos, sei que não é certo, mas foi o que aconteceu.
Eu só queria sair da rua e me esconder um pouquinho num lugar que considerasse seguro, pois já eram 13:30 e tínhamos que decidir se voltávamos, se dormíamos lá, ou o que faríamos. Eu não queria dormir naquela cidade de jeito nenhum, e nossa viagem estava ameaçando acabar ali, até que entramos em um hotel para consultar preços, e não tinha ninguem na recepção, apenas uma mãe com uma filha sentadas nos sofás. Sentamos um pouco pra esperar e comecei a conversar com elas, e elas me tranquilizaram muito. Eu tenho que agradecer essas estranhas, pois elas salvaram nossa viagem. Elas sugeriram que nós fossemos com ela para a rodoviária, pois sempre havia aquela pessoa que comprava a passagem e não aparecia, então nós tínhamos uma pequena chance. Topamos. Dividimos o taxi e chegamos lá. Nós não éramos os únicos nessa situação, e o pessoal da rodoviária estava muito estressado com toda a euforia das pessoas. O motorista vetou qualquer tipo de acomodação de quem não tinha passagem, e as pessoas foram dispersando, até sobrarem apenas uns gatos pingados. Essa senhora sensacional puxou o motorista num canto e conversou com ele em um espanhol perfeito, não sei o que ela disse, porém fez efeito, e o motorista nos deixou entrar, avisando que na próxima cidade entrariam os donos dos bancos que nós estávamos ocupando e teríamos que viajar em pé. Topamos! Pagamos 120 bolivianos cada! Quando se está na chuva é pra se molhar.

A viagem de San Matías a Santa Cruz durou das 15horas do sábado, até as 11horas do domingo, com direito a tudo e mais um pouco. Logo na primeira cidade tivemos que desocupar os bancos e sentamos no chão do corredor. Uma família que ocupava 3 bancos, sendo 2 adultos e 2 crianças pequenas nos cedeu um banco e eu sentei, mas o Rennan continuou no chão durante todo o trajeto. Durante a noite nos deparamos com uma ponte de madeira (o caminho é quase todo em terra) e o motorista se sentiu inseguro para passar, acordou todo mundo e pediu para descer, para que ele passasse com o ônibus sozinho, mais leve, e assim fizemos. O problema foi que na volta, todo mundo voltou para o ônibus com barro nos sapatos, sujando todo o corredor, atual banco do Rennan. Limpamos com um papel higiênico que nos deram e ele deitou numa coberta também cedida por uma alma caridosa (como as pessoas são queridas nessas horas).

Chegando em Santa Cruz respiramos aliviados, uma cidade! A rodoviária é um caos, mas isso até aqui em Cuiabá, então relevamos. Agora, revendo tudo, vejo que relevamos muitas coisas nessa viagem, coisas que não estamos acostumados a relevar no dia a dia. Isso vale muito a pena!

Começamos a procurar hospedagem nos hotéis próximos a rodoviária, e nenhum me passou confiança. Eles estavam em torno de 120 a 140 bolivianos o quarto. Entramos em uma lanhouse e encontrei um hostel a 2km de onde estávamos e começamos a caminhar! Chegamos no Jodanga e lá era lindo, tinha até piscina, o quarto privativo com banheiro público custava 180 bolivianos, o que era mais caro do que os demais, mas tinha benefícios, ali me senti segura! Depois disso, comecei a conversar com as pessoas e relaxar, a Bolívia não é tão assustadora assim, e a fronteira com o Brasil é a parte que eles menos gostam do País, não se importam com ela, o que resulta no tráfico e degradação na região.

Tentamos comprar passagens para seguir viagens dali uns dias, mas descobrimos que só se vendiam passagens para o mesmo dia, então passamos o dia ali, visitamos a praça 24 de setembro (principal) a noite, e nos encantamos. O local é totalmente iluminado, policiado e utilizado, por jovens, crianças, idosos, famílias e cachorros. Vendedores respeitosos e pessoas sentadas num clima muito agradável, conversando. Fantástico! Comemos Pique Macho num bar irlandês e bebemos algumas batidinhas diferentes.
No outro dia fomos para a rodoviária cedo e compramos a passagem noturna para La Paz. Passeamos um pouco durante o dia, conhecemos mais alguns parques, andamos de pedalinho, e voltamos pro hostel final do dia para fechar nossa mala. A noite fomos para a rodoviária e embarcamos para La Paz, viramos a noite dormindo enquanto viajamos os quase 900km de distância.

Enfim, chegamos a La paz próximo do horário de almoço, e a essa altura já tinhamos feito amizade com duas meninas dentro do ônibus. Elas nos deram algumas dicas de lugares para ficar em La Paz, e decidimos pelo Wild Rover assim, na lata. Nos dirigimos para ele e acabamos nos separando das meninas, que chegaram ao hostel pouco tempo depois da gente e acabaram se deparando com um hostel sem vagas, nós havíamos pego as últimas! =O Sem ressentimentos, depois nos encontramos novamente no bar do hostel!
Acho que pagamos 210 bolivianos pelo quarto barulhento e apertado que ficamos. O Wild Rover é perfeito pra quem está afim de fazer novos amigos e se embebedar, porque aparentemente era o que todo mundo fazia lá! Tinha um bar irlândes (pessoal lá gosta disso) com um menu sensacional! Me deliciei! A noite: festa festa festa! A galera dos outros hostels vinha pra lá festar! e acabamos encontrando um amigo meu de Cuiabá.
No outro dia fomos para o Lago Titicaca.
E no outro dia fizemos o passeio do Chacaltaya, que amamos! Não quisemos ir até o Vale de la Luna, apesar de ter pago por ele, porque queríamos conhecer a parte bonita de La Paz, e de quebra, passar pelo Banco do Brasil sacar uma grana. De lá seguimos para a rodoviária e compramos passagens para Uyuni/Potosi.
Pegamos o ônibus noturno novamente, o que nos poupou muita grana na viagem, e seguimos viajando para o Salar.

Chegamos em Potosi pela manhã e já compramos o passeio de 1 dia, saindo as 10:30/11horas para o deserto. Almoçamos Frango com arroz que nem pedreiros, no meio do Salar, e notamos que todos fazem isso mesmo. Tiramos muitas fotos clichês e retornamos no final do dia, com uma sificuldade: Não dava pra dormir ali. Tínhamos que seguir viagem. Compramos a passagem até Sucre e chegamos lá tarde da noite sem hotel: que medo! Pra ajudar ainda estava uma noite chuvosa!
Achamos um hotel mais ou menos confortável, por um preço salgado, perto do que estávamos pagando, e tomamos um banho gelado no banheiro do corredor e capotamos! No outro dia nem animamos para conhecer a cidade. Tínhamos recebido uma dica de um lugar chamado Ojo del Inca, uma lagoa dentro de um vulcão desativado, e eu queria ir de qualquer jeito, mas já estávamos na estrada a uns 8 dias, e a viagem já começava a cansar. E ainda tínhamos todo o caminho de volta pela frente.
Decidimos seguir viagem, e até hoje tenho vontade de conhecer esse lugar, mas voltamos para Santa Cruz de la Sierra. Aproveitamos que tínhamos tempo para fazer umas comprinhas, aproveitar mais um pouco de Santa Cruz, e seguimos viagem de volta a Cuiabá, e diga-se de passagem, a volta foi muito mais tranquila do que a ida.
No total, ficamos fora 10 noites, sendo 9 delas na Bolívia. 5 noites passamos em hotéis e 4 noites passamos viajando em ônibus noturnos.
Gastamos 910 reais cada, contando com as compras de lembranças e roupas nas feiras de lá, o que consideramos muito barato.
Comemos muito! Muito mesmo! Adorei o Pollo e papas fritas da bolívia, pedia em todo lugar! Mas voltamos mais magros, pela caminhada toda, que não estavámos acostumados!
Valeu muito a pena e desejo muito outra viagem dessa, cheia de incertezas e surpresas boas! Mas sempre com a cautela habitual!
Um beijo e até